O mundo secreto de Claire Guilman

Sinopse: Claire Guilman, é uma orfã, uma menina estranha e sozinha, que todos julgam ser "obscura". Por causa de a julgarem assim, Claire nunca fala com ninguém e sempre que pode, evita estar junto com os outros orfãos, ela pensa o tempo todo, se está destinada a ser para sempre uma garota estranha e sozinha.
Certo dia, Claire fica conversando com seu reflexo, ao qual julga ela, ser seu único amigo no mundo, seu outro EU e quando sobe para seu quarto, descobre que seu outro EU realmente existe, ela não estava mais sozinha, mas a história não para por aí, entrigada por descobrir seu outro EU e finalmente não se sentir mais sozinha, Claire resolve ir para o mundo de seu utro EU, a fim de escapar de seu duro destino, de sua amarga vida, e se tornar uma nova Claire.
Este, é o mundo secreto de Claire Guilman...


                   O mundo secreto de Claire Guilman

               As pétalas caiam, como em todo inverno... Eu corria sem rumo, sem direção... Não havia propósito para correr, eu apenas corria, corria como se a minha vida dependesse disso, corria como se o vento fosse me levar, corria como se o coração fosse saltar pela boca...
              Enchia as botas d'água, porque corria e pisava nas poças que se formavam nos buracos da estrada, ali só havia uma estrada, muitas árvores com folhas brancas e poucas casas em volta, poucas casas... Ninguém me entendia, eu era solitária, muito solitária, as pessoas só pensavam em dinheiro, fama e luxo, hipócritas! Digo alto, mesquinhas e hipócritas, a eles a vida não valia nada mais do que luxo! Egoístas, um bando de egoístas, ao contrário de mim, eles só sabem ver o valor do dinheiro e não o valor do caráter, mas para mim não importa, já que eu sempre fui sozinha...
              Aquele maldito casarão! Velho e sujo, não serve pra nada, não tenho amigos, jamais soube qual foi minha família, nunca tive ninguém, sempre estive trancafiada nesse velho casarão, condenada a ser uma triste e solitária órfã, a qual ninguém entende, condenada a ser para sempre... Claire Guilman.

Capítulo 1 - Quem é a misteriosa menina vestida de preto? 

              O que bastava para mim, era ir ao jardim todas as manhãs e visitar a fonte, tinha vezes que ficava sentada por horas e horas observando a doce água cristalina. Observava meu reflexo e pensava se meu único amigo era o meu outro eu, quem sabe havia um lado meu adormecido, quem sabe ele era inofensivo e frágil, ou arrogante e imprestável, eu não sabia, só sabia que tinha que haver um outro eu, pelo menos, ele poderia me ouvir.
              Levantei-me então e subi a escadaria do salão, para ir até o meu dormitório, ninguém me dizia Bom dia, era apenas um olhar e uma virada, para disfarçar o medo, pois, "aí vinha Claire Guilman, a garota monstro, que fala com os mortos" era como costumavam me chamar, só por causa do meu jeito, terminando de subir o corredor, fui direto ao meu dormitório, me joguei na cama e abracei o travesseiro, eu estava sozinha, novamente sozinha, queria saber onde estava o meu EU naquela hora, por quê não surgiu de uma vez? Eu realmente estava sozinha...
              Foi neste instante, que a porta do armário se abriu e eu pude ouvir uma voz...
              - Não chore, minha pequena Claire, você não está sozinha.
              E como saber quem era? Se as janelas estavam fechadas, as cortinas tampavam a luz e a porta estava trancada? Como poderia alguém ter entrado? Será que se escondeu antes que eu chegara? Como sabia que eu me sentia sozinha?
              Nesse instante, é como se a pessoa tivesse lido a minha mente, pois respondeu:
              - Eu ouvia seus cochichos, por isso sabia que você se sentia sozinha.
              Então, parei por um segundo e perguntei:
              - Você é meu outro EU?
              E saindo do guarda-roupa se apresentou e disse:
              - SIM.
              Era igual a mim, ela era uma garota de cabelos compridos e pretos, tinha olhos vidrantes e um olhar bem forte, parecia não ter uma expressão no rosto, segurava entre os braços um coelhinho preto, estava com um vestido preto e tinha uns olhos que na verdade eram vermelhos, mas mesmo assim, era uma menina sem expressão... Foi quando lhe perguntei qual era seu nome e ela me respondeu :
              - Eu não tenho um...
              Resolvi então, que lhe daria um nome e declarei:
              - Que tal... Angelique?
              Ela me olhou com aqueles olhos vermelhos e disse:
              - Angelique está bom.
              Só achei meio esquisito, que mesmo depois de tantos anos sozinha, Angelique só fosse aparecer agora diante de mim, será que havia alguma razão para ela estar ali? Ou simplesmente decidiu  aparecer agora? Esperava que ela me desse uma resposta, mas não me disse nada, só continuou a me observar fixamente.
               Foi neste momento que eu senti uma leve brisa e quando me dei conta, Angelique havia sumido... Era só o que me faltava, além de sozinha eu estava começando a ver coisas, começando a entrar no delírio e este, eu sabia que era fatal. Decidi esquecer o acontecido e descer para almoçar, já estava tarde, não queria ficar sem almoço, delirar já era um grande castigo para mim, male má dois...
              Terminando de descer as escadas, encontrei todos reunidos no grande salão, esperando a chegada de um homem importante, sabe-se lá Deus quem era... Nem dei importância, fui direto ao salão de alimentação e esperei persistente, até que a moça da cozinha resolvesse me dar um prato de sopa, acho que mesmo com medo de mim, ela ficou com dó e resolveu me dar um prato, comi tudo rapidamente, antes que todos chegassem, eu dispensava os outros garotos e garotas, comendo felizes ali, já que não havia um se quer, que não tivesse medo de mim. Voltando ao meu quarto, deitei novamente na cama e soquei a cabeça no travesseiro, por quê eu não podia ser normal? Por quê tinha que ser a Claire Guilman e não uma outra garota qualquer? O que fiz eu de mau para ser tratada dessa maneira? Ninguém merece...
              Por quê os pensamentos tinham que preencher a minha vida? A única coisa que eu tinha a liberdade de fazer era pensar, eu não precisava de ninguém pra isso, era mais fácil, já que eu era quieta demais, era o único modo de me tornar independente, ter os próprios pensamentos... E por fim, caí num profundo sono.
              Eu sonhava... Sonhava que Angelique estava ali mais uma vez e ela me dizia adeus, me dizia que tinha que voltar, de fato eu não queria que ela voltasse, por isso, acabei acordando, esperando achar uma resposta, por quê Angelique aparecera? E de onde viera? É difícil acreditar que havia um outro EU, Angelique.
              Assim que acordei, encontrei Angelique debruçada sobre a cama, com seus olhos fixos em mim, foi ai que me dei conta que ela não era fruto da minha imaginação, Angelique existia e estava ali por mim, então lhe perguntei:
              - Onde você estava? Por quê sumiu?
              - Eu já te disse em sonho, tenho que voltar ao lugar de onde vim...
              - Mas, por quê você veio se ia passar tão pouco tempo?
              - Eu vim porque você me pediu, foi você quem disse, "por quê o meu outro EU não aparecera de uma vez?" Eu vim para lhe mostrar que você não está sozinha.
              - Mas, por quê você não fica?
              - Talvez, eu fique, se é isso que você quer...
              - Quero sim. Você parece ser a única que me entende...
              - É mesmo?
              - Sim.
              - Então eu irei ficar.
              Não sei como explicar este sentimento, era contagiante, nunca havia sentido coisa parecida, acho que isso se chama... Felicidade.

Capítulo 2  - Os lobos só uivam à noite.

              Logo que abri os olhos na manhã seguinte, senti como se eu estivesse de ressaca, o cansaço me consumia pouco a pouco, eu me sentia pesada, não conseguia se quer, parar em pé, suava frio, por quê me sentia daquele jeito? E onde estava Angelique? Precisava urgentemente dela, queria que ela me ajudasse, cuidasse de mim, não enxergava direito, a cabeça pesava demais, estava ficando doente, só ela poderia cuidar de mim, minha única amiga, quando me dou conta, tudo passa e Angelique aparece, dizendo que ouviu o meu pedido, que ela me salvasse, fiquei feliz, éramos totalmente obscuras e nos entendíamos facilmente e eu sabia que ela nunca iria me abandonar, a final de contas, ela era o meu outro eu.
              Recuperada totalmente daquela insana manhã, desci as escadas e fui tomar meu café, o salão estava lotado, havia gente de tudo quanto era lado e sem me dar conta, lá estava eu falando comigo mesma, ou melhor, com Angelique, os outros olhavam assustados, seria aquela uma alma penada que pediu ajuda a Claire, ou seria uma irmã gêmea? Talvez até mais maligna do que a própria Claire... Ninguém se atrevia a dirigir uma palavra se quer às duas, apenas observavam calados aquela dupla sinistra, que zanzava pelo salão. 
              Decidi que iria visitar o velho jardim junto a Angelique, queria lhe transmitir os mesmos sentimentos que eu possuía, apesar de vazios e sem valor, era importante para mim, que ela compartilhasse disso tudo comigo, afinal, era a única com quem eu podia contar. O jardim era imenso, tinha muitas rosas, era maravilhoso estar ali junto com ela, apesar de não trocarmos nem uma palavra, uma a outra, era engraçado, ambas éramos estranhas, fechadas, mas dentro de toda essa escuridão que nos envolvia, eu podia sentir que havia um feixe de luz que nos conectava, um resto de esperança, que apesar de tudo, ainda existia em nossos corações, foi daí que me surgiu a curiosidade, apesar de fazermos parte de um único ser, eu havia nascido na Terra e onde haveria nascido Angelique? Ainda sim, ela era misteriosa, queria saber de onde ela veio e como era esse lugar, por isso, não hesitei em perguntar:
              - Angelique. De onde você veio? De outro planeta? Outra dimensão?
              E ela, me olhando fixamente com aquela cara sem expressão, me respondeu:
              - Você é cruel, somos a mesma, mas nossa natureza é completamente diferente, minha natureza é psicótica, venho de um mundo completamente distorcido, onde tudo é escuro e severo, tudo é completamente obscuro e assustador, completamente fora da sua realidade, um mundo formado de criaturas estranhas e bizarras, totalmente sem lógica.
              - E como se chama esse mundo?
              - Ele não tem nome... É só um mundo...
              - E como você conseguiu chagar até aqui?
              - Pela porta das dimensões.
              - Porta das dimensões?
              - Sim, porta das dimensões, uma porta que liga o seu mundo e o meu.
              - Nossa! Podemos ir lá? Quero visitar o seu mundo...
              - Hum... Tenho certeza que você gostaria de ir lá e se daria muito bem... Mas, nós só podemos ir lá à noite.
              - Por quê?
              - Porque é assim... São como os lobos, eles só uivam à noite, nós só podemos visitar a outra dimensão em horários diferentes se obtivermos a chave do tempo e espaço, a EXPANT.
              - Entendi... Mas, me esclareça mais uma dúvida... Existem mais de você nesse mundo? Digo.. Outros EUs?
              - Sim, existem.
              - E por quê eles não atravessam a barreira para encontrar seu outro EU?
              - Eles não podem... É proibido.
              - Mas então... Como você pôde vir até aqui?
              - Você não entende Claire? Você é especial, é Claire Guilman, a chave para o nosso mundo dos horrores, a única com suficiente para entrar no nosso mundo sem nenhum medo, a única humana, com poderes do mundo sobrenatural...
              - Poderes você diz?
              - Sim, poderes e eles só despertarão se você for para o nosso mundo e treinar a sua mente...
              Mesmo com toda a ênfase que Angelique dava à aquele mundo, eu sentia que poderia me dar bem por lá... Quem sabe, lá eu arranjaria mais amigos, ou quem sabe, até uma família... Meus doces sonhos grandiosos...