12.9.12

Ás três horas da tarde

          Hoje me levantei sem muito o que pensar. Ou refletir...
          Basicamente me levantei sem um propósito... Sem uma fixa motivação...
          Me levantei porque o vento gelado me obrigava e porque os raios de sol refletiam no meu rosto pálido o despertar do amanhecer que se levantava aos olhos de todo mundo... Ou pelo menos, aos olhos dos escritores ingleses...
          Me dirigi ao banheiro, a fim de lavar o rosto e fazer um rápido gargarejo. Levei minhas mãos à pia, a água fria as fazia congelar e aos poucos empalidecer, aquela porcaria de inverno sempre atrapalhava a minha disposição, mas se sacrificar para escrever colunas diárias era um desafio que eu preferia correr... Peguei a toalha e enxuguei o rosto, fiquei uns dez segundos pensando na vida, quando finalmente me olhei no espelho e esperei uma resposta de mim mesmo... "O que faço aqui?"
          Saí do banheiro, ainda meio adormecido, com as mangas do pijama molhadas e com ar de arrependimento por levantar tão cedo... Me dirigi a cozinha, onde preparei um delicioso banquete, onde só haviam torradas, uma xícarazinha de café e um pequeno pacote com biscoitos... Era o suficiente para o meu café da manhã...
          Depois de um "farto banquete", me joguei no sofá e resolvi ver as notícias... Meu humor não me deixava em paz... Queria me queixar de tudo e dizer "O raio que o parta!". Mas era desnecessário. Já que, brigar comigo mesmo não era a melhor forma de resolver um problema...
          Tomei posse do controle da TV, me deitei todo esculachado. Fiquei imaginando por que a vida estaria assim... Tão desnecessariamente tediosa e fútil, ou seria apenas o meu dia que estava sendo tedioso...?
          Sem paciência nenhuma para ver as notícias, decidi ir logo fazer meu trabalho e parar de enrolação.
          Abri uma caderneta e comecei a esboçar uns recados: "Comprar mais pó de café à tarde, levar o cachorro pra passear, ir de ônibus até a estação e lembrar dos artigos da  semana de inverno". Terminando de escrever, fui para mesa da "inspiração". É como eu costumo chamar a minha mesa de trabalho...
          Me sentei e tentei procurar inspiração... Pensei na correria do centro, pensei nos ônibus lotados, pensei até nos fumantes e nos motoqueiros, mas nada me vinha a cabeça...
          Numa tentativa meio desesperada de conseguir inspiração, liguei o rádio, comecei a refletir as letras das músicas e a pensar no que seria do amanhã... Meus discos dos Beatles já estavam todos desgastados... Ouvi tantas vezes que a agulha chegou a riscar todos eles... Já sem discos, ou inspiração, eu busquei pensar, sem propósito ou fim...
          Já me descabelava sem ter uma inspiração, ficar tanto tempo refletindo sem propósito me fazia enlouquecer!!! E quanto mais eu me preocupava, mais ficava irritado por não poder achar uma inspiração... Acabei por desistir... Me cansei por ficar de palhaço. Por isso resolvi descer logo no centro e comprar o maldito café...
         "Porcaria!" exclamei chegando ao mercado, a fila estava tão longa que eu poderia estar surtando de dor nos ossos que o rapazinho do caixa só ia ouvir quando chegasse a minha vez. Já não estava de bom humor, pegar fila no mercado ainda? Como se acordar cedo num frio daqueles já não fosse castigo suficiente...
         Aos poucos a fila foi seguindo e nela fui pensando o por quê as pessoas gostam tanto de café, ou por quê o café as deixa tão nostálgicos... Acabei por pensar numa boa matéria para a coluna do jornal.
         Chegando ao meu apartamento, joguei a sacola de compras no sofá e rezei pra que aquele artigo saísse bom, me sentei e comecei a escrever sobre o dia-a-dia das pessoas que gostam de café.
         "Por quê gostam de café?
          Todos aqueles executivos e homens importantes ou fanáticos suicidas por trabalho excessivo sempre gostam de café... Já notaram?
          Hoje em dia parece que é isso que move o mundo... Não a correria do dia-a-dia, nem as passagens de trem atrasadas mas o café, o café que dá ânimo pro homem enfrentar o dia-a-dia.
          Na experiência que tive hoje, café me causou um impacto... Mas não pela cafeína (convenhamos, é algum tipo de droga, porque todos que a tomam nunca conseguem parar) mas sim, pela maldita fila que tive que enfrentar, só pra comprar uma maldita lata de café, quem sabe, não é mesmo o café que move o mundo?"
          E foi assim que comecei a minha matéria, fiquei horas pensando em como descrever essa "revolta" de como o café move o mundo,  ao envés do ser humano com suas próprias pernas. A coluna ficou tão extensa que resolvi parar para descansar, depois daria uma revisada e retiraria uns excessos, mas agora era hora do café da tarde, afinal, eram três da tarde.


                                     By   s2_Sakura_s2 

4 comentários:

  1. Fantástico! Você criou um personagem interessante com uma personalidade interessante e um desfecho maravilhoso! Amei o cenário também. Parabéns!
    Vitória.

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  2. kkkkkkkkkkk foi inspirado numa amiga minha, motoqueira, beatlemaniaca, "alcoólatra", loira, paulistana, rockeira e meio loka que adora café... kkkkk xD

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  3. Muito legal o texto, deu até uma vontade de tomar um cafézinho.... sauhsausuasu s2

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